sábado, 23 de abril de 2011

Luz

E ai estava ela, nada mais, a luz. Cintilante envolvia-me. O verdadeiro sentido da vida. Veio a tempo? Sim, ainda sentia o meu coração a bater desenfreadamente, causa da adrenalina que abundava no meu corpo. E ela ao iluminar a gruta iluminava os recantos da minha alma. Daquele ponto em diante passei a acreditar em milagres.
Agora a luz iluminava a escura e poeirenta gruta, chamei-lhe esperança. Agora o silêncio gritava e o seu eco vibrava na minha cabeça, chamei-lhe a voz da vida.
É engraçado como só nos apercebemos do valor da vida quando a perdemos, ou quase perdemos. Quando atingimos o fundo e olhamos para cima. Apercebemo-nos que a vida é, realmente, bela.
Nos últimos meses tinha-me sentido sozinho. Tu não sabias que eu existia e, no fundo, a curiosidade pela morte aumentava em mim á medida que o teu sorriso se entranhava no meu coração e o meu sorriso não se entranhava no teu. O sentimento de impotência apoderara-se de mim. E contemplei a morte como o único escape ao sofrimento…estava errado.
E só me apercebi disso á medida que ia caindo no abismo.
Dizem que uma queda demora fracções de segundo. É mentira, a minha durou uma vida.
A ilusão da morte cegava-me e eu seguia maquinalmente – a vassalagem da vida -.
Mas, por fim, depois de cair no fundo é certo, encontrei a luz. Não era a mais perfeita e bela luz, contudo os seus raios brilhantes e translúcidos transmitiam a epifania que tivera depois da queda.
As coisas boas – que parecem não existir – estavam lá. Relembrei a minha curta vida de 19 anos. Todas as pequenas coisas - o primeiro abraço sentido, a primeira bebedeira, a descoberta da beleza do corpo feminino -, a beleza da vida.
Quando o choque da queda passou levantei-me e segui em direcção á luz e, á medida que caminhava, apercebi-me que não havia tempo de desistir, só tempo de lutar e cair. E, o que é uma queda senão um erro que nos traz sabedoria?

                                                                                                                                            Filipe Fernandes   

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