terça-feira, 21 de julho de 2015

V.I.D.A. em 5/4

Vejo-me na efemeridade da vida na ponta da caneta
percebo que acabou o período da experiencia na proveta
procuro alguém que me minta e prometa
que não a sinta como um cometa
pronto a destruir a edificação do meu planeta

Insurjo-me onde o papel comanda a vida, quando só lhe quero pegar fogo
nesta luta já perdida em que ele me tira o fôlego
ofegante e sem respiração, na primeira fila da destruição
da minha singularidade, da minha nação
silencia-se a verdade, pois só se fala com o cifrão

Da minha mente faço o livro razão
onde anoto as oportunidades que me “dão”,
como o deslizar de uma serpente
que se move de olhar contundente
onde nada mais é importante

Assim me movimento, no labirinto do presente
onde sou indiferente e, quem sabe, diferente
de toda essa gente, feliz e “inteligente”
imprudente no caminho, daí é bom eu ir sozinho
se me fecho e recrimino, é por já não ser o homem com olhar de menino


Filipe Fernandes

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Cidade

A cidade é o meu vicio,
Na paixão que me consome por inteiro
Á beira do precipício,
Onde a chama faz do meu coração braseiro
Perco-me entre o fumo e o cheiro
De como me assumo, não verdadeiro,
Nunca me vendi por inteiro
Tive medo que não comprasses,
Mas se o amor é uma venda, prefiro dar-te uma prenda
E amar-te nestas frases

A solidão é a minha casa,
um fogo que arde em pouca brasa
Encontro companhia na tua voz rouca que me embala
Mas amor é roleta russa e tu és a bala
E a sorte nunca esteve do meu lado
Dou o peito á bala, e saio magoado
Tudo isto por tentar escrever o nosso fado,
Quando não quiseste ser a minha cidade.



Filipe Fernandes

sábado, 11 de abril de 2015

Só metade

Encontro-me, nesta folha que me prende
Livre, da troca de olhares que encaro relutante
No vazio, que encarno displicente
Sou vadio, só eu e a minha mente

No bater do tempo que me divide
Será que tentas procurar quem em mim já não reside?
Ou será que o peso dos ponteiros
Afogou esses momentos, em tempos, verdadeiros?

No beijo outrora partilhado
No toque de lábios agora imaginado
Mil anos entre o sonho e a realidade
Sou eu, só metade


                                                                 Filipe Fernandes

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Mendigo de coração

Acordei com o brilho dos teus olhos na cabeça
O clarão luminoso que peço que me endoideça
Leva-me ao limbo do mais altruísta sentimento
Onde eu movo montanhas, e tu és displicente,
Onde o pilar construído por nós
Desafia de braços abertos o destino mais atroz
E cai por terra, sem gestos, sem voz
Consumido pelo tempo que passa
Transformando cada olhar teu na minha desgraça

Travo a luta do amor por dois
Neste campo de batalha de puros sóis
A desilusão de quem sou,
E a ilusão de quem não sois
Nesses beijos, toques, abraços que o tempo levou
Ergo-me assim para o meu calvário
O homem,
Apaixonado pela mulher que deus amou

E, no celestial ar da tua graça
Á luz de quem há tua volta passa
Estou eu, mendigo de coração
Perguntando á irracional razão,
Se sabes quem somos,
Ou não?


Filipe Fernandes

L.I.N.A.

Passei hoje entre o amor e o ódio
Na mudança de um novo dia
Procuro nos espólios
O que sempre pensei que seria

Mas não foi e não será
Uma nova porta não se abrirá
Mas a velha janela por onde entrei
Tenta-me, como só eu sei

Abraçar o passado e não o largar
Gritar amor até não respirar
Viver na ilusão da companhia
Do singelo sorriso do dia-a-dia

Sempre defendi o progresso
Mas tenho medo do que está á frente,
Ou talvez só de não ir com gente
Como bom ateu, a deus peço
O contentamento de quem mente

Eu não minto a ninguém a não ser a mim próprio
Abraço a imaginação como o meu ópio
A minha ilusão amada
De uma vida partilhada
Um laço entre eu e nada

Enquanto anjos vão ao inferno e regressam aos céus
Leio nas outras pessoas a minha solidão
Intrigante e escondida em véus
Naquela que é a imagem da minha paixão
Assim, irreal, me diz adeus

                                                                       Filipe Fernandes

Desenfreada Calma

A areia passa na ampulheta
E eu mantenho-me igual, na minha diferença
No tempo que passa de chama acessa,
Nessa vontade de a mudança ser a certeza

Uma certeza incerta neste tempo de penumbra
Sinto-me traído pela minha própria sombra
Pois em matérias do corpo e da alma,
Todos nos somos réis, na desenfreada calma

E é no movimento da socialização,
Que jaz uma nova razão
Para a tirania de um passar à democracia de dois
Numa ligação que só perceberás depois


                                                  Filipe Fernandes

(Originalmente publicado em Ruptura: http://ruptura9.webnode.pt/)


Jaula

Acordo com o palpitar da cidade
Frenético e constante,
Perco-me, em verdade
No seu olhar ofegante
Que me traz prazer e dor
As suas ruas são a minha maneira de ser

Numa jaula de prédios enclausurado
Sem qualquer réstia de liberdade
Viver torna-se o derradeiro pecado
Num estilo sem-vontade, passa o dia-a-dia
Mas não há dia que não pense como seria
Levantar e abandonar,
Trocar o cinzento da cidade
Pelo verde da liberdade,
Afogo-me na sua linguagem fria
Rasgada por um raro olhar de simpatia
Que cai por terra em mais um ataque de demagogia

É esta a minha sina, a minha verdade
Sou só mais um, consumido pela cidade

                                                     Filipe Fernandes

(Originalmente publicado em Ruptura: http://ruptura9.webnode.pt/ )